21 de mar. de 2012

Procurando Ana Bruna

Todos os anos costumamos vir à praia no verão. Ficamos três ou quatro semanas. Neste verão meus pais foram para o Tahiti e eu chamei os colegas de turma pra não ficar sozinho. Somos cinco: três garotas, eu e o Leonel – meu melhor amigo.
As primeiras três semanas foram ótimas: muito sol, mar, música, windsurf e comida boa.
As meninas cuidam da bóia. Patrícia e Pietra – irmãs – são invencíveis no quesito sanduíches originais: equilibram carboidratos e proteínas, sempre com um toque inusitado ou um pão especial. Ana Bruna é especialista em massas e molhos de encher os olhos. Eu e Leonel somos a dupla do churrasco.
E foi no maldito dia do churrasco que tudo aconteceu.

Depois de comermos horrores – pelo menos eu – Ana Bruna saiu pra nadar e não voltou. No começo pensamos que tinha encontrado alguém e ficado conversando. Temos uns amigos na praia, gente boa, que às vezes ficam conosco. Fomos às casas vizinhas e ninguém havia visto Ana Bruna.
Saímos para procurar nas redondezas, cada um num canto, e nada.
Nenhum de nós pensava que ela tivesse se afogado. Ana Bruna é campeã de natação e tem um ótimo preparo físico – e a gente não entende como, já que a sua alimentação é baseada naquelas massas calóricas e deliciosas que engordam qualquer um.
Fomos ao Pronto-Socorro e aos dois hospitais daqui e ninguém como ela havia dado entrada. Procuramos até os salva-vidas da praia – mesmo sabendo que era exímia nadadora. Não houve nenhum incidente no mar nos últimos três dias.
Depois de uma discussão sobre otimismo e pessimismo, decidimos ir ao necrotério. Eu sei, é o ultimo lugar pra se procurar alguém, mas tínhamos que descartar essa possibilidade. Mas graças a Deus não  havia nenhum cadáver feminino por lá.
Não sabíamos mais o que pensar. Fomos à polícia e contamos tudo. O policial disse que era preciso esperar mais um dia pra dar queixa do desaparecimento dela – lei mais besta.
Ninguém dormiu à noite e eu era quem estava pior. Acho que estou gostando dela... Não quero nem imaginar ter que lembrar depois de velho que o primeiro amor da minha vida desapareceu e eu nem tive oportunidade de me declarar. Isso destrói a vida amorosa de qualquer um...
Ela era linda de um jeito especial. Não era uma beleza artificial. Ela não usava maquiagem, essas coisas. Era linda porque era ela mesma. Cheia de vida, alegre, verdadeira... Como fui idiota... 
Meu Deus, estou falando no passado... Que absurdo... não, ela está bem. Ela é linda. Nós vamos encontrá-la...
Começo a pensar coisas horríveis que a minha mente se nega a acreditar: sequestro, morte... Estou me sentindo enjoado... Não vão me dizer “eu sei o que vocês fizeram no verão passado”, que aí é demais...
Preciso dormir, meus olhos estão fechando, mas eu não consigo deixar de pensar na Ana Bruna... Só quero que ela esteja bem...
Acordo suado e o Leonel e a Patrícia estão ao meu redor. Disseram que falaram com a minha mãe no MSN. Não estou entendendo nada, continuo enjoado... A ideia de perder Ana Bruna está me deixando louco... Parece que eles estão falando em câmera lenta... Acho que vou dormir de novo...
Escuto uma voz chamando meu nome:
– Helson, acorda! Você precisa tomar o remédio...
Abro os olhos e vejo Pietra:
– Ainda bem, você parece melhor. A tua febre era de 40 graus!
– Febre?
– Durante dois dias você delirou...
– E a Ana Bruna? Eu não posso perdê-la...
– Estou aqui! – ela disse, se aproximando.
Que vergonha! Tanto tempo sem me declarar e agora ela escuta isso desse jeito... Que bom que ela está bem... Preciso falar com ela...
– Ana, onde você estava? Fiquei muito preocupado!
– Eu não saí daqui. Mas tua mãe me fez jurar... Nunca mais vamos deixar você comer tanto. Uma indigestão dessas pode matar!

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