31 de mar. de 2012

Uma lógica e tanto...

Era fim de mês e Alzinéia pediu à patroa um adiantamento. Precisava comprar um fogão novo e viu pela janela do ônibus uma promoção no centro da cidade. O preço era bom, mas só para pagamento à vista.
A patroa fez um cheque e ao sair do trabalho Alzinéia correu para a loja. Olhou o modelo do fogão e se dispôs a comprar. Fez o cadastro, deu o endereço de entrega e foi efetuar o pagamento.
A mocinha do caixa, ao receber o cheque da patroa, lhe disse:
– A senhora não pode pagar com este cheque. Só aceitamos cartão, dinheiro ou cheque próprio.

Alzinéia argumentou que o cheque era bom:
–  Olhe, eu trabalho lá faz cinco anos. E dona Cleide nunca passou um cheque sem fundo. Ela é muito correta. Pode aceitar que não tem problema.
–  Eu entendo, mas não posso. São as regras da loja.
Alzinéia estava determinada. Um fogão àquele preço ela não ia conseguir em lugar nenhum e o dinheiro andava curto. Pediu para falar com o gerente.
O senhor Lopes já chegou sabendo do caso:
–  Senhora, sou o gerente da loja. Eu entendo que tenha confiança na pessoa que passou o cheque. Mas aqui seguimos a praxe do comércio. Não aceitamos cheques de terceiros.
–  De terceiros? – perguntou Alzinéia.
–  Exato. Se o cheque não é seu é de terceiros.
Alzinéia ia falar, mas o celular do gerente tocou. Ele se afastou um pouco para atender e ela se lembrou que estava com a carteira profissional na bolsa. Pensou nas palavras do gerente e achou que ainda podia conseguir comprar o fogão.
O senhor Lopes desligou o celular e voltou:
– Minha senhora, o que eu posso fazer é deixar a mercadoria reservada até amanhã. A promoção é só hoje, mas eu seguro esse preço se o valor for pago em dinheiro. A senhora só tem que levar o cheque, descontar no banco e pronto.
– Mas olhe! Eu achei a minha carteira profissional.
– Sim, mas o que isso tem a ver com a compra do fogão?
– Posso provar que trabalho para a dona Cleide. O nome da minha patroa está escrito aqui.
– Minha senhora, não estou duvidando que a dona Cleide seja sua patroa. A questão é que não podemos receber um cheque que não é seu.
– Mas o senhor disse que só não recebe cheque de terceiros!
– Exato – disse o gerente, já ficando impaciente.
– Então está tudo certo. Veja aqui na carteira. O nome da dona Cleide é o mesmo nome que está no cheque.
– Sim, mas...
– Isso prova que ela deu o cheque diretamente pra mim. Então não é cheque de terceiros! É cheque de segundos!
O gerente ficou imóvel como uma estátua. E mudo.
Alzinéia continuou:
– De terceiros seria se ela me desse um cheque de outra pessoa! Este o senhor pode aceitar!
Ante a lógica da cliente, o gerente foi até a mocinha do caixa:
– Pode fazer a venda.
– Mas senhor Lopes, o cheque não é dela... – disse a caixa.
– Eu sei. Mas esse eu vou aceitar. É de segundos... 

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