Era fim de mês e Alzinéia
pediu à patroa um adiantamento. Precisava comprar um fogão novo e viu pela
janela do ônibus uma promoção no centro da cidade. O preço era bom, mas só para
pagamento à vista.
A patroa fez um
cheque e ao sair do trabalho Alzinéia correu para a loja. Olhou o modelo do
fogão e se dispôs a comprar. Fez o cadastro, deu o endereço de entrega e foi
efetuar o pagamento.
A mocinha do caixa,
ao receber o cheque da patroa, lhe disse:
– A senhora não
pode pagar com este cheque. Só aceitamos cartão, dinheiro ou cheque próprio.
Alzinéia argumentou
que o cheque era bom:
– Olhe, eu trabalho lá faz cinco anos. E dona
Cleide nunca passou um cheque sem fundo. Ela é muito correta. Pode aceitar que
não tem problema.
– Eu entendo, mas não posso. São as regras da
loja.
Alzinéia estava
determinada. Um fogão àquele preço ela não ia conseguir em lugar nenhum e o
dinheiro andava curto. Pediu para falar com o gerente.
O senhor Lopes já
chegou sabendo do caso:
– Senhora, sou o gerente da loja. Eu entendo que
tenha confiança na pessoa que passou o cheque. Mas aqui seguimos a praxe do
comércio. Não aceitamos cheques de terceiros.
– De terceiros? – perguntou Alzinéia.
– Exato. Se o cheque não é seu é de terceiros.
Alzinéia ia falar,
mas o celular do gerente tocou. Ele se afastou um pouco para atender e ela se
lembrou que estava com a carteira profissional na bolsa. Pensou nas palavras do
gerente e achou que ainda podia conseguir comprar o fogão.
O senhor Lopes
desligou o celular e voltou:
– Minha senhora, o
que eu posso fazer é deixar a mercadoria reservada até amanhã. A promoção é só
hoje, mas eu seguro esse preço se o valor for pago em dinheiro. A senhora só
tem que levar o cheque, descontar no banco e pronto.
– Mas olhe! Eu
achei a minha carteira profissional.
– Sim, mas o que
isso tem a ver com a compra do fogão?
– Posso provar que
trabalho para a dona Cleide. O nome da minha patroa está escrito aqui.
– Minha senhora,
não estou duvidando que a dona Cleide seja sua patroa. A questão é que não
podemos receber um cheque que não é seu.
– Mas o senhor
disse que só não recebe cheque de terceiros!
– Exato – disse o
gerente, já ficando impaciente.
– Então está tudo
certo. Veja aqui na carteira. O nome da dona Cleide é o mesmo nome que está no
cheque.
– Sim, mas...
– Isso prova que
ela deu o cheque diretamente pra mim. Então não é cheque de terceiros! É cheque
de segundos!
O gerente ficou
imóvel como uma estátua. E mudo.
Alzinéia continuou:
– De terceiros
seria se ela me desse um cheque de outra pessoa! Este o senhor pode aceitar!
Ante a lógica da
cliente, o gerente foi até a mocinha do caixa:
– Pode fazer a
venda.
– Mas senhor Lopes,
o cheque não é dela... – disse a caixa.
– Eu sei. Mas esse
eu vou aceitar. É de segundos...
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