No nicho da civilização over-hedonista que se alastra de forma curiosa mundo afora é difícil entender o luxo. Ou ao menos o novo sentido dado a ele.
Como
peixe fora d’água assumida caminho na contramão do fluxo de excessos e da
supervalorização do que pouco valor possui.
Luxo
não é lavar o rosto ou tomar banho com torneiras de ouro em Dubai. Não é gastar
trezentos reais na blusinha de griffe com bainha cortada a laser.
(Aliás, o laser ainda é uma polêmica. Para uns é o corte preciso. Para
outros é acabamento de mau gosto para economizar horas de costureiras). Tampouco
é comprar coleiras com diamantes para cãezinhos de estimação. Ou viajar para
Miami ou outro centro de compras para trazer bolsas, roupas e sapatos de
milhares de reais.
Na via
paralela a do consumo luxuoso corre a avenida da esperteza. Essa última foi
patenteada por aqueles que descobriram (ou inventaram) que a marca vale mais
que a coisa em si, e que há quem a compre para se sentir prestigiado, mesmo que saiba que grande parte das vezes, empresas que fabricam peças comuns,
fazem as de marca - com a mesma matéria prima e o mesmo acabamento, colocando
só a etiqueta.
Esse
tipo de luxo sequer possui a chancela do que se considerava essencial décadas
atrás para abrigar esse conceito: a exclusividade. Hoje, os produtos exclusivos
de certas ‘grandes griffes’, estão espalhados pelo mundo em centenas de
franquias. Obter exclusividade não requer maiores esforços. Só uma ida ao
shopping mais caro em qualquer cidade grande e lá está a peça ‘exclusiva’ com
preço idem.
As
pessoas que consomem esse luxo provavelmente sabem o que pagam pelo produto (a coisa em si) e pela marca. E quanto realmente vale o que estão comprando. Ainda assim o
consumo desses segmentos vem crescendo, à margem das crises internacionais e
locais. A impressão que se tem é que se está consumindo menos por
prazer pessoal e mais pelo prazer de que os outros saibam que você pode se dar
a esses luxos. O prazer de usar e se cercar de coisas luxuosas é em última
análise, menos uma questão estética e mais uma ostentação.
Seja
como for é interessante que o bom senso não seja atirado ribanceira abaixo.
Porque se olharmos mais detidamente, vemos que nada disso pode ser considerado,
de fato, como luxo.
Luxo é algo
bem diferente. Assim como a elegância, ele tem um elemento básico: moderação. Não
só do que você carrega ou se cerca, mas de como o faz. Na forma e no conteúdo. E até mesmo no contexto. Porque a despeito de cada um poder se dar certos prazeres, o luxo
não deve afrontar, num mundo onde ainda há tanta escassez.
Luxo hoje se resume a ‘ter’
ou ‘aparentar ter’ coisas - nem sempre luxuosas, mas tidas como - quando na verdade, luxo é ‘ser’.
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