O final de tarde
era perfeito. A praia, o palco de uma sinfonia de cores e sons.
O tom de ouro velho
do sol se refletia na baixa-mar fazendo os simplórios grãos de areia brilharem.
Algo mágico. Partículas de luz são pequenas gotas de alegria em nosso íntimo.
Cada gota na sua pequenez é capaz de modificar todo um estado de espírito...
Em contraponto, as ondas espumavam sonoras numa
cadência melancólica mantendo o ritmo do ocaso piano, piano...
Nenhuma intervenção
humana ousaria quebrar a harmonia daquele momento.
Eu sabia que a
praia estaria deserta. Escolhi o momento ideal para levar avante minha decisão.
Caminhei pela areia quente e fofa afundando meus pés. Não segui direto até o
mar. Parei para me deixar invadir pela obra-prima regida pela mãe natureza.
Logo um casal de
aves se juntou a mim. Os únicos expectadores traziam um significado especial ao
momento. São aves que vivem juntas por toda a vida. E não só se encarregam das
tarefas do cotidiano, da mera sobrevivência, das necessidades de seus corpos. Encontram
espaço para contemplar a vida.
Eu tive um amor
antigo que até hoje me parece o mais verdadeiro que já vivi. Ou ao menos o que mais de aproxima de
se chamar amor. E depois de muitos anos sem notícias, soube que havia partido
para sempre. Senti uma tristeza estranha. Uma tristeza tingida de saudade.
Suas flores
preferidas eram os lisianthus. Escolhi os mais belos e os levei comigo. A praia
sempre fora nosso cantinho de silêncios e sensações. Parávamos ali para
contemplar a vida como as duas aves hoje o fazem. E ao final mergulhávamos nas
águas quentes da serenidade daquele mar de outrora.
Hoje não vou
mergulhar. Vou deixar que as flores embebidas no balanço das ondas se deixem
levar. Eu as envio para o meu saudoso amor pois sei que se pudesse escolher não
partiria sem elas.
A praia vai seguir sendo palco de outras
sinfonias. Para mim restará a lembrança e uma saudade estranha, tingida de
aconchego.
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