O salão de
convenções do hotel luxuoso estava lotado de executivos para a Conferência de
Responsabilidade Socioambiental Corporativa. Tema da moda, local próprio para um
marketing sustentável e conversas que podem gerar futuros negócios, o evento
era um sucesso garantido.
Sérgio de Angelis,
jornalista econômico do prestigiado jornal local observava o ambiente quando
foi abordado:
– Sérgio? Lembra de
mim? Armando Nunes, seu parceiro de squash lá no interior.
– Claro que lembro
– e estendeu a mão num cumprimento
amistoso. – Você parece bem! E então,
veio para a conferência?
– Vim. Represento
uma empresa de projetos urbanísticos.
– Você é arquiteto
por formação, certo?
– Isso mesmo. Olha,
já vai começar. Vamos sentar?
O jornalista seguiu
o parceiro pelas fileiras pensando nos tempos idos. Uma época boa. Sérgio
trabalhava numa revista e o jogo servia para relaxar as tensões da semana. Armando
estava começando a carreira num escritório pequeno. Ele era um tanto ingênuo,
mas íntegro. Dividiam a quadra de squash enquanto faziam planos para o
futuro.
O mediador anunciou
o primeiro palestrante: Peter Greender, da JP Holding, ia falar dos avanços na
gestão socioambiental do seu conglomerado. Peter tinha presença, postura e voz
que passavam credibilidade. Começou a projeção de slides mostrando os selos
verdes e as certificações que seus produtos carregavam:
– Somos uma empresa
amiga das crianças, não usamos mão de obra infantil, nosso aço é todo reciclado, nossos
fornecedores são certificados...
– Quanta bobagem –
disse Sérgio, abanando a cabeça.
– Você, um jornalista,
acha que responsabilidade socioambiental é bobagem? – estranhou Armando.
– O conceito é bom
mas o contexto não se adequa.
Peter continuava:
– Nossos resíduos
são todos tratados quimicamente...
– Já vi que vou
perder meu tempo aqui – disse Sérgio.
– Isso é o futuro –
disse Armando. – As empresas que não seguirem a cartilha estarão fora do
circuito em pouco tempo. A bola da vez é a preservação ambiental.
– Você é arquiteto
e está vendo do seu ponto de vista. Mas as coisas não são assim como pensa... –
respondeu Sérgio.
– Mas essa empresa
é um exemplo de boa prática ambiental!
– Acho que você
está emprenhando pelos ouvidos...
– Não acredito que estou
ouvindo isso de você.
Peter Greender
continuava a todo o vapor:
– E esta semana,
depois de termos obtido todos os selos de qualidade, conseguimos o cobiçado selo
Antiozon, que certifica que nossos produtos não afetam a camada de ozônio!
– Agora essa
baboseira já passou dos limites – disse Sérgio. – Até parece que sua preocupação ambiental é legítima! Seus produtos não afetam a
camada de ozônio? Reciclagem? Selos verdes?
– Não estou
entendendo – retrucou Armando. – Afinal qual é o problema?
– Você sabe o que a
empresa dele fabrica?
– Não.
– Ogivas e mísseis nucleares. Todos inócuos ao
meio ambiente!
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