1 de mai. de 2012

Empresa verde?


O salão de convenções do hotel luxuoso estava lotado de executivos para a Conferência de Responsabilidade Socioambiental Corporativa. Tema da moda, local próprio para um marketing sustentável e conversas que podem gerar futuros negócios, o evento era um sucesso garantido.

Sérgio de Angelis, jornalista econômico do prestigiado jornal local observava o ambiente quando foi abordado:
– Sérgio? Lembra de mim? Armando Nunes, seu parceiro de squash lá no interior.
– Claro que lembro –  e estendeu a mão num cumprimento amistoso. – Você parece bem! E então, veio para a conferência?
– Vim. Represento uma empresa de projetos urbanísticos.
– Você é arquiteto por formação, certo?
– Isso mesmo. Olha, já vai começar. Vamos sentar?
O jornalista seguiu o parceiro pelas fileiras pensando nos tempos idos. Uma época boa. Sérgio trabalhava numa revista e o jogo servia para relaxar as tensões da semana. Armando estava começando a carreira num escritório pequeno. Ele era um tanto ingênuo, mas íntegro. Dividiam a quadra de squash enquanto faziam planos para o futuro.
O mediador anunciou o primeiro palestrante: Peter Greender, da JP Holding, ia falar dos avanços na gestão socioambiental do seu conglomerado. Peter tinha presença, postura e voz que passavam credibilidade. Começou a projeção de slides mostrando os selos verdes e as certificações que seus produtos carregavam:
– Somos uma empresa amiga das crianças, não usamos mão de obra infantil,  nosso aço é todo reciclado, nossos fornecedores são certificados...
– Quanta bobagem – disse Sérgio, abanando a cabeça.
– Você, um jornalista, acha que responsabilidade socioambiental é bobagem? – estranhou Armando.
– O conceito é bom mas o contexto não se adequa.
Peter continuava:
– Nossos resíduos são todos tratados quimicamente...
– Já vi que vou perder meu tempo aqui – disse Sérgio.
– Isso é o futuro – disse Armando. – As empresas que não seguirem a cartilha estarão fora do circuito em pouco tempo. A bola da vez é a preservação ambiental.
– Você é arquiteto e está vendo do seu ponto de vista. Mas as coisas não são assim como pensa... – respondeu Sérgio.
– Mas essa empresa é um exemplo de boa prática ambiental!
– Acho que você está emprenhando pelos ouvidos...
– Não acredito que estou ouvindo isso de você.
Peter Greender continuava a todo o vapor:
– E esta semana, depois de termos obtido todos os selos de qualidade, conseguimos o cobiçado selo Antiozon, que certifica que nossos produtos não afetam a camada de ozônio!
– Agora essa baboseira já passou dos limites – disse Sérgio. – Até parece que sua preocupação ambiental é legítima! Seus produtos não afetam a camada de ozônio? Reciclagem? Selos verdes?
– Não estou entendendo – retrucou Armando. – Afinal qual é o problema?
– Você sabe o que a empresa dele fabrica?
– Não.
– Ogivas e mísseis nucleares. Todos inócuos ao meio ambiente! 

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