Uma das melhores
lembranças da infância são as tardes nos balanços. Nunca conheci uma criança
que não dissesse para o pai ou a mãe “ Empurra mais forte!”.
Nós voávamos ali sentados, com aquela
sensação plena de liberdade que poucas vezes na vida torna a se repetir. O
vento batendo no rosto, os pés longe do chão, o brilho do sol nos nossos
olhos... O vaivém do balanço era só alegria e prazer e nos sentíamos
vitoriosos. Conseguíamos nos equilibrar sozinhos a grandes altitudes! Não
tínhamos medo. Éramos só coragem.
Depois, crescemos.
E não precisamos do empurrão de nossos pais para o vaivém da vida. Entramos
nele sozinhos. Mas já não há aquela percepção de plena liberdade, nem aquele deleite
que nos trazia a sensação de vitória. Ao contrário. O vaivém da vida muitas
vezes nos dá medo, nos faz perceber a transitoriedade de tudo o que nos cerca.
E a única certeza que temos é que tudo é incerto.
Hoje, por mais que desejemos
afastar os fantasmas que nos assombram (e todos temos alguns em nossos
armários) já não somos só coragem enquanto balançamos no ar. O vento no rosto e
o sol nos nossos olhos agora podem nos cegar. E quando voamos a grandes
altitudes sabemos que a possível vitória é proporcional ao risco de queda.
Somos agora (ao mesmo tempo) coragem e medo.
Nesse vaivém de gente
grande, seria mágico reviver as incríveis sensações da
infância. Seria muito bom (nem que por um pequeno lapso de tempo) nos
sentirmos totalmente livres e com aquela coragem inabalável.
Outro dia numa roda de amigos levantamos essa
questão: Será que hoje conseguimos dizer para a vida, com a mesma segurança de
antes: “Empurra mais forte?”
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