- E aí, Lena? O que faz aqui?
- Nada.
- Nada?
- É. Vim o mais longe
possível para não pensar em nada.
- Por quê?
- Pra me isolar.
Do burburinho do cotidiano, do atordoamento dos sons e imagens do mundo.
Preciso do vazio.
- O que acha que
vai encontrar aqui?
- Não sei. Um
sentido, talvez.
- Sentido? Pra quê?
- Pra vida.
- Isso não é muito profundo pra se buscar à beira-mar?
- É, mas busco dentro de mim. E aqui é o melhor lugar para tentar me
ouvir.
- Não vai conseguir nada
aqui.
- Não sei se vou ou não, mas você não tem nada com isso.
- Como não?
- Sapo de fora não chia.
- Não sou sapo de
fora.
- É, sim, como
todo mundo.
- Não me compare
às pessoas a sua volta.
- Pare de se intrometer.
De controles eu já estou bem servida. Dispenso o seu e os demais. Quero estar
no controle agora.
- Nunca estamos. Não somos livres a ponto
disso.
- Você nunca me deixou
livre, não é?
- Procuro manter você nos eixos, para o seu próprio bem. É o meu
papel.
- Você usurpa os limites
do razoável.
- Se não fosse por mim, você seria mais
impulsiva, cometeria mais erros, se arrependeria mais...
- Você já me prestou
bons serviços. Mas agora precisa ir. Precisa abandonar o plantão e me deixar só.
- Sabe que isso é impossível.
- Vou esquecer que você existe. Quero estar só e ver como é. Preciso
ficar só.
- Não posso me dissociar de você. Somos um, esquece?
- Quer ver como podemos? Saia agora e me deixe.
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